AMOR EM TEMPOS DISTÓPICOS:100% de Paul Pope
- MathVaz
- 16 de abr.
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- MathVaz (16/04/25)
Todo mundo adora um entretenimento. E na história da humanidade ele já esteve em várias roupagens diferentes, extraindo sempre sentimentos à flor da pele. Em todos os sentidos. Mas quando o entretenimento parte para a desumanização, aí o papo fica mais sério. O resultado quase sempre é a apatia. Inimiga dos amores e paixões. E 100 % conta histórias de amor em tempos distópicos, quando o entretenimento colide com a paixão.

O que assusta ao ler 100% é o quanto o presente está se aproximando rapidamente do futuro distópico de Paul Pode, o autor do quadrinho. A obra levanta debates sobre como o entretenimento se desenvolve num futuro de austeridade sufocante, onde o medo anda ao lado dos sonhos, e os desejos são permeados de inseguranças. Aqui, romance e cyberpunk se juntam para explorar a integridade humana e a forma como construímos nossas relações com as pessoas.
Paul Pope segue uma regra de ouro na contação de história. Ele valoriza muito mais a construção dos personagens do que a elaboração daquele universo distópico. É justamente ao focar no desenvolvimento dos personagens que passamos a conhecer de forma emotiva e aprofundada o mundo cyberpunk do quadrinista.

Mas não me entenda mal. Ele não deixa de lado o desenvolvimento deste universo, mas o faz de forma muito menos expositiva, convidando-nos para releituras mais atentas à construção dos cenários e das pessoas que transitam neste mundo, dos policiais com seus carros voadores aos pobres dos centros urbanos que precisam ir atrás de ração. Como ele diz na entrevista que integra os extras desta edição da Editora Mino, é preciso saber todas as regras do universo ficcional que você está construindo, mesmo que mostre apenas 10% delas.
O foco, portanto, é nos personagens. São personagens que pedem muito pouco daquela sociedade em degradação, apenas o amar, a paixão e a arte. Eles se apaixonam, mesmo quando as próprias entranhas do corpo humano se tornam o ápice do entretenimento nas casas de strip. Neste quadrinho conhecemos três tramas de romance, de intensidades e maturidades diferentes. Todos os casais e personagens enfrentam em maior ou menor grau suas inseguranças, medos e vícios. Mas sempre na busca por uma integridade, seja com seus sonhos, sua arte, seus desejos.

Sobretudo, encontram o caminho de sua integridade não no entretenimento ou no trabalho que fazem dentro da casa de strip, seja gerenciando, dançando, servindo ou limpando; mas se relacionado com outras pessoas. Nas amizades e amores, nas risadas e momentos que tem um com os outros, deixando serem tocados do corpo ao espírito.
Paul Pope moderniza a atual onda de cyberpunk, resgatando histórias íntimas e pessoais em detrimento das grandes narrativas da ficção científica e distópica. Encontrando nas pequenas atitudes do dia a dia de pessoas corriqueiras a sua própria narrativa, ele encanta não pela distopia, mas pelo romance. Pelas pessoas.
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