- MathVaz
Dentro dos quadrinhos vamos encontrar vários elementos gráficos. Afinal, ele é essencialmente gráfico. Mas um em especial ganha pouca atenção, mesmo que o vemos quadro a quadro: os balões de fala.

No Brasil é pouco comum falarmos do trabalho de balonista, uma pessoa especializada em trabalhar com os balões de fala dentro do seu quadrinho. Até mesmo dentro da cena nacional de quadrinhos. Isto porque nossa indústria cultura é fraquíssima, a ponto de, em muitas áreas, não podemos falar nem que existe uma produção a nível industrial. Ou seja – e você saberá muito bem do que eu to falando – poucas pessoas ou uma única pessoa fica responsável por todo o processo artístico e editorial.
Mas o que de fato é o balão de fala?
Uma frase que eu sempre repito nas aulas é que balões são metáforas visuais para o som. Como o quadrinho não tem som, somos obrigados a representar o som de forma gráfica. Então o balão tá numa situação difícil de explicar porque ele é simultaneamente duas coisas. Ao mesmo tempo que ele é som, uma metáfora para o som, ele é um elemento gráfico, é parte do desenho. Por ele ser muito diferente do resto do desenho, ele acaba sendo uma âncora para o olhar do leitor na página. Por isso ele precisa ser pensando como um som, o que já é difícil, e como elemento gráfico, pois balões que estão em lugares errados, pouco pensando narrativamente falando e maiores do que deveriam ser, acabam atrapalhando a experiência do leitor.
- Rapha Pinheiro, diretor da Inko e professor dos cursos de Quadrinhos, Desenho de Cenários, Atelier e Presença Digital para Artistas.
O quadrinho não tem som, então ele precisa ser parte do desenho, que são os balões. E por ser parte do desenho, diferente dos outros elementos gráficos como cenário e os personagens, acaba chamando atenção do leitor. Então é fundamental para uma ótima experiência de leitura, que se não for pensando como elemento narrativo, prejudicará sua leitura. É isso que nossa professora de Edição e Diagramação, Ananda Valle, também aponta:
Balonar um quadrinho é representar os sons de uma história, tanto as vozes dos personagens quanto os sons ambientes. É de extrema importância para a narrativa visual, pois, além de guiar o leitor, estabelece as características dos sons pelo visual. Por isso, um balonamento mal feito pode impactar muito a experiência de leitura e a compreensão da história.
- Ananda Valle, professora do curso de Edição e Diagramação da Inko.
E no mundo ideal se você não for especializado no trabalho de quadrinhos você poderia super chamar alguém para fazer esta parte. Seja parceria ou prestação de serviços.
Mas como não temos nada de editoras como a Marvel e DC Comics por aqui, ou seja projetos de quadrinho recorrentes que contam com uma equipe em vez de uma pessoa só. Como fica o mercado de quadrinhos relacionado aos balões no Brasil?
Normalmente, se encontra trabalho pra balonistas em quadrinhos que estão sendo produzidos em equipe, tipo roteirista, desenhista e colorista sendo profissionais diferentes. Por isso, o melhor é procurar editoras, produtoras ou coletivos que estejam fazendo HQs. Também há a possibilidade de trabalhar com traduções de histórias ou adaptações de formatos (tipo webcomic pra impresso e vice-versa).
- Ananda Valle, professora do curso de Edição e Diagramação da Inko.
Apesar de um mercado pequeno, também está em crescimento e aos poucos se profissionalizando cada vez mais, e isto se reflete na expansão desses espaços para o balonista. É um trabalho de ensinar a necessidade de trabalho especializado em balões, que, sem dúvida, não é fácil, mas por justamente não por ser fácil é que pode trazer oportunidades para quadrinistas.
Muita gente nem sabe que existe essa tarefa, que pode ter um profissional que foca nos balões. Acaba sendo um mercado pouco explorado, com espaço para mais gente chegar junto. Também pode ser uma boa porta de entrada pro mundo profissional dos quadrinhos, pra quem ainda está estudando escrita/desenho/edição.
- Ananda Valle, professora do curso de Edição e Diagramação da Inko.
Dos balões ao mercado de quadrinhos, este é um dos textos do nosso “Dicionário de Quadrinhos”, em que exploramos um pouco desta vasta arte, suas formas de profissionalização e analisamos a cena nacional de quadrinhos:
Desenho, Arte-Final, Color, Roteiro, Sala de Roteiro, Edição e Diagramação.
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