Por que o Mangá é Tão Popular no Brasil?
- Tassiane Ribeiro
- 30 de abr.
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-Tassiane Ribeiro (30/04/2025)
Não é segredo que brasileiro gosta muito de anime. Aliás, o país é o terceiro (fora do Japão e da China) a consumi-los, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. E a grande razão por trás disso é a TV aberta dos anos 90, que levou a uma grande procura por mangás que deram origem aos desenhos japoneses. Contudo, essa parceria entre Brasil e Japão tem uma história mais antiga do que a gente imagina.

1994, TV Manchete. A exibição do anime Cavaleiros do Zodíaco começava de maneira singela, mas logo foi incorporando um grande público infanto-juvenil. À época, os direitos de exibição de desenhos japoneses eram bem mais baratos, o que foi uma escolha certeira para as emissoras brasileiras “preencherem” o espaço destinado a esse público na TV (RIP).
Vários animes ganharam destaque nessa época, mas Cavaleiros do Zodíaco foi o primeiro a despertar o interesse comercial na parada. Estamos falando de brinquedos, eventos, publicidade... O que certamente alimentava também o gosto do público. Hoje, é muito comum ver quem viveu a infância dos anos 90 ter o anime com um alto valor nostálgico (e isso também vende como nunca!).

Os mangás também se consolidaram nessa época, ocorrendo assim um fenômeno diferente: enquanto os mangás, no Japão, servem para testar se a história terá um apelo comercial suficiente para, depois, lançar o anime, aqui, o anime chega antes do mangá: do audiovisual, partimos para a leitura.
Mas se engana quem pensa que a procura por mangás começou depois dos animes exibidos na TV nos anos 90. As histórias em quadrinhos japonesas chegaram ao Brasil ainda no século XX, na bagagem da imigração japonesa. Popularizam-se, no bairro da Liberdade, sebos que vendiam essas histórias, contribuindo para manter viva a cultura entre os descendentes.

Contudo, como afirmamos anteriormente, emissoras como TV Manchete e Bandeirantes contribuíram muito para popularizar não somente os animes, como também os mangás no Brasil inteiro. Ainda nessa década, surgiram revistas especializadas no assunto, que traziam notícias sobre o que passava na TV e também novidades do mercado japonês de animes e mangás.

Já no início dos anos 2000, algumas editoras brasileiras, como a JBC e Conrad, apostaram em séries originais traduzidas para o português. No âmbito dessa subcultura, surgiu a necessidade de interação em grupos com interesses semelhantes. Assim, a popularização de feiras e eventos de cosplays também serviram para fortalecer esse público e o apelo comercial das obras.
Linguagem simples e leitura dinâmica, a estética dos traços e a presença de uma diversidade de temas certamente são ingredientes que compõem a receita de sucesso dos mangás. Contudo, percebemos que a criação de personagens tem uma importância tremenda: os protagonistas e os enredos vividos por eles geram uma identificação muito forte com os leitores, sobretudo os mais jovens, e o que é uma boa leitura senão aquela que causa uma interação forte? Hoje, eles são presença confirmada em feiras literárias.
Mangás e o “boom” na geração atual
Durante a pandemia, o mercado dos animes passou por um novo “boom”, como o produto da relação: mais tempo de tela + investimento pesado das empresas de streaming. E, como já vimos por aqui, os animes são grandes responsáveis por atrair o público brasileiro para a leitura de mangás.
A influência das mídias, mais do que nunca, molda a nossa visão de nós mesmos. Assim, os chamados “otakus brasileiros”, sem a possibilidade de atender a eventos físicos durante a pandemia, certamente encontraram nas redes o espaço para interagir, compartilhar seus interesses e as suas interpretações das obras: fanzines, fanarts, cosplays, etc.
É um mercado com um público diversificado (jovens e adultos) e que só cresce. Mangás, em eventos literários, costumam esgotar muito rápido, e os números de vendas, do início dos anos 2000 até hoje, são de espantar. Sobretudo num país reconhecido pelo número escasso de leitores, este é um fenômeno digno de se observar: sabemos que são as histórias em quadrinhos as principais inspirações para vencer a falta de interesse pela leitura no Brasil.
No fim das contas, as influências servem apenas para se chegar à primeira (ou, no caso dos mangás, na última) página. O que fisga o público, para além dos temas, dos traços e da nostalgia, é a humanidade das personagens. Está tudo bem se sentir assim é o que muitas vezes essas páginas comunicam ao seu público.
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